De alguma forma fomos ajuntados. Peripécias do destino ou obra do acaso — a gosto do leitor. Do interior, da capital; dos anos 80, 60 e 40. Adeptos das havaianas, adeptos do salto alto. Alguns se regozijam sacolejando em eventos de axé enquanto outros preferem um barzinho e um violão. Alguns odeiam mensagens inúteis reproduzindo-se sem o menor pudor na caixa de e-mails e outros não conseguem viver sem elas (ou com o pudor). Há os que amam o Direito pelo prestígio do terno e pela estabilidade da gravata, alguns o festejam pelo seu poder de ordenar, outros o abraçam pelo seu potencial de transformar.
Agora, com olhos de ir embora, pretendem de nós um malabarismo que revele, em uma mensagem um pouco sensível, um pouco simpática, um pouco otimista, o tal espírito da turma. Somos diversos. Traço em comum, comemoramos, no ano em que nos graduamos, os 20 anos da Constituição Federal Brasileira. Há ainda outras comemorações: 160 anos do Manifesto Comunista, 120 anos da abolição da escravatura, 60 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, 40 anos da Primavera de Praga. Parece que os anos terminados em oito guardam um certo pacto com as utopias. Elas não nascem sem razão. A Constituição Brasileira de 1988 foi escrita e promulgada em 18 meses. Não sai da casa dos minutos, no entanto, o tempo necessário para perceber que o que está no papel não está na realidade.
Nossa turma habitou o décimo andar de um prédio no centro de Belo Horizonte. Aulas de Direito Constitucional na sala, uma breve espiada através da janela e uma visão panorâmica das ausências da Constituição. Teimam em permanecer em nosso caminho as vidas secas retratadas por Graciliano Ramos e que pensávamos ter superado para passar no vestibular.
Despedimo-nos da Faculdade de Direito em 2008. Em comum, todos deixamos para trás uma parte de nosso mundo. Cada qual com seus medos e com suas frustrações. Cada qual com suas satisfações e com suas aspirações. Acompanha-nos a realidade de secas que nos abrigam a todos. Alguns vão insistir no deserto do real. Outros, oxalá muitos, vão provar realizáveis as utopias de mundo melhor, as utopias que querem o Direito cada vez mais próximo da Justiça, a realidade da Constituição, um homem do outro homem. Em comum temos, por fim, mais um oito na história. Um oito que nasce modesto, mas com pretensões de fazer-se universo.