Estranha a sensação de ver passarem, novamente, através das páginas deste convite, as muitas estações que vivemos ao longo desses anos. Fomos alegria e encantamento no verão da descoberta, quando a Medicina era o início de um grande sonho, o vestibular, a maior conquista, e a anatomia, a disciplina que mais nos aproximava da arte médica. Com o passar dos anos, chegou a semiologia, que nos apresentou o paciente. Nesse momento, cada um a seu tempo, foi deixando de lado a euforia para dar espaço à responsabilidade. Já não estávamos mais sós, acabávamos de receber a companhia daquele que, em diferentes faces, nos irá acompanhar em nossa jornada, pelo qual juramos sempre zelar. Iniciávamos o outono da maturidade. Mas tudo estava apenas começando! Ainda viriam estágios, plantões, noites maldormidas, cansaço. Era chegada a proximidade do inverno da dúvida, da insegurança e da certeza de que nunca estaríamos completamente prontos. Mas o tempo, sábio que é, em cada momento de incerteza trazia consigo a esperança. Impossível não abrir um sorriso diante da mãe que recebe o filho em seus braços pela primeira vez ou após vê-lo renascer. Assim como também é impossível ficar indiferente à gratidão daquele que, muitas vezes, recebeu pouco mais que nossa atenção e que tanto acrescentou ao nosso crescimento como médicos e seres humanos. Era a primavera insistindo sempre em florescer. Agora, chegada a hora da despedida, os sentimentos e as estações se misturam. A alegria da conquista intimida-se com a insegurança causada pela ausência do olhar atento de nossos preceptores. Porém, entre tantos sentimentos contraditórios, alguns prevalecem em nossos corações: a esperança de sermos bons médicos, de honrarmos nossos mestres e nossa casa de ensino, e a certeza de que esse é apenas mais um recomeço. Que Deus abençoe a todos nós e nos permita viver com intensidade as muitas estações que virão. E que tenhamos sabedoria para aprender com cada uma delas.