“Tuas mãos… Tuas mãos grandes, tuas mãos fortes, tuas mãos firmes sustentando minhas mãos, tão pequenas, tão frágeis. Ensinando-me os meus primeiros passos. Tuas mãos apertando as minhas, numa cumplicidade infinita. Enquanto eu sonhava, tuas mãos trabalhavam. E quando eu ia além do sonho, elas estavam ali me aplaudindo. E se os ventos não me eram favoráveis elas também estavam ali estendidas, firmes e fortes. Hoje, tuas mãos não me parecem tão grandes. Meus dedos já não se perdem mais entrelaçados aos teus. Mas quando tuas mãos seguram as minhas, os anos se perdem, e eu volto a ser a criança de algum tempo atrás.
Se um dia, já homem feito e realizado, sentires que a terra cede aos teus pés, que tuas obras desmoronam, que não há ninguém à tua volta para te estender a mão, esquece tua maturidade, passa pela mocidade, volta à tua infância, e balbucia, entre lágrimas e esperanças, as últimas palavras que sempre te restarão na alma: minha mãe, meu pai”.
(Rui Barbosa)